Carrinho

Hayao Miyazaki

Nascimento: 5 de janeiro de 1941
Local: Bunkyo, Tóquio, Japão
Cônjuge: Akemi Ôta (desde 1965)
Filhos: Goro Miyazaki, Keisuke Miyazaki
Ocupação: Diretor, roteirista, animador, autor e desenhista de mangá.
Atividade: 1963 – até o momento.
Influências: Osamu Tezuka, Roald Dahl, Antoine de Saint-Exupéry, Jean Giraud, Nick Park, Ursula K. Le Guin.

“A criação de um único mundo vem de um grande número de fragmentos e caos.”

Sobre

Hayao Miyazaki é um animador, cineasta, roteirista, escritor e artista de mangá japonês. É co-fundador do Studio Ghibli, uma companhia de cinema e animação, tendo conquistado reconhecimento e aclamação internacional pela qualidade de seus vários longas-metragens de animação, os quais ele normalmente escreve e dirige, sendo amplamente considerado como um dos principais nomes da indústria de animação japonesa.

Os trabalhos de Miyazaki são caracterizados pela recorrência de diversos temas, como a relação da humanidade com a natureza e tecnologia, a integridade de padrões de vida naturais e tradicionais, a importância da arte e perícia e a dificuldade de manter uma ética pacifista em um mundo violento.

Suas protagonistas são frequentemente meninas ou jovens mulheres fortes, com muitos de seus trabalhos apresentando antagonistas ambíguos que possuem qualidades redentoras. Suas obras já foram muito elogiadas e premiadas, com ele inclusive tendo recebido um Oscar Honorário em novembro de 2014 por suas contribuições para a animação.

Informações pessoais

Hayao Miyazaki
Cineasta japonês
Diretor e cofundador do Studio Ghibli

Nascimento 5 de janeiro de 1941 (79 anos)
Tóquio, Japão
Progenitores Mãe: Dola Miyazaki
Pai: Katsuji Miyazaki
Cônjuge Akemi Ota (1965–presente)
Filho(s)

Goro Miyazaki
Keisuke Miyazaki

Alma mater Universidade Gakushuin
Profissão
  • Animador
  • Diretor
  • Roteirista
  • Escritor
  • Artista de mangá
Empregador Toei Animation (1963–1971)
A Production (1971–1973)
Zuiyo Eizo (1973–1975)
Nippon Animation (1975–1979)
Tokyo Movie Shinsha (1979–1982)
Topcraft (1982–1985)
Studio Ghibli (1985–presente)

Biografia

Hayao Miyazaki nasceu em 5 de janeiro de 1941 na cidade de Akebono-cho na região especial de Bunkyo, Tóquio, Império do Japão. Era o segundo de quatro filhos de Katsuji Miyazaki, diretor da Miyazaki Airplane, que fabricava os lemes dos caças de combate japoneses durante a Segunda Guerra Mundial.

Os negócios familiares permitiram que a família mantivesse um padrão de vida durante os primeiros anos da vida de Miyazaki. A família foi evacuada para Utsunomiya em 1944. Eles foram novamente evacuados em julho de 1945, depois do bombardeiro de Utsunomiya, desta vez para Kanuma. O bombardeio deixou uma impressão duradoura em Miyazaki, que tinha apenas quatro anos na época. Sua mãe, Dola, sofreu de tuberculose vertebral de 1947 a 1955; ela passou os primeiros anos no hospital, depois recebeu cuidados em casa. Dola era uma mulher severa e intelectual que questionava regularmente as “normas socialmente aceitas”. Ela morreu em julho de 1983 aos 71 anos de idade.

Miyazaki começou seus estudos em 1947, entrando em uma escola primária de Utsunomiya, cursando da primeira a terceira série. Sua família então voltou para Tóquio e se estabeleceu em Suginami, com ele completando a quarta série na Escola Primária Omiya e a quinta na Escola Primária Eifuku. Depois disso ele cursou a Escola Colegial Omiya. Miyazaki desejava se tornar um artista de mangás, porém descobriu que tinha dificuldades em desenhar pessoas; em vez disso, por vários anos, ele apenas desenhou aviões, tanques e navios de guerra. Foi influenciado por vários artistas de mangás, como Tetsuji Fukushima, Soji Yamakawa e Osamu Tezuka. Ele destruiu boa parte de seus primeiros trabalhos, acreditando que era uma “forma ruim” copiar o estilo de Tezuka, pois isto estava prejudicando seu próprio desenvolvimento como artista.

Se formou na Escola Colegial Omiya e em seguida foi estudar na Escola Colegial Toyotama. Seu interesse por animação foi despertado no seu primeiro ano, quando assistiu A Lenda da Serpente Branca. Miyazaki “se apaixonou” pela heroína do filme e ele lhe deixou uma duradoura impressão. Ele foi estudar na Universidade Gakushuin e entrou no “Clube de Pesquisa de Literatura Infantil”. Miyazaki se formou em 1963 em ciência política e economia.

Primeiros anos

Miyazaki foi contratado em 1963 pela Toei Animation. Ele trabalhou como artista intermediário no longa-metragem animado Doggie March (Wanwan Chushingura) e na série de televisão Ken, O Menino Lobo (Okami Shonen Ken) ambos ainda em 1963. No ano seguinte trabalhou no filme Gulliver’s Travels Beyond the Moon (Gariba no Uchu Ryoko). Ele foi um líder em uma disputa trabalhista logo depois de entrar na empresa, tornando-se secretário chefe do sindicato trabalhista da Toei em 1964. Se casou em outubro de 1965 com Akemi Ota, com quem teve dois filhos: Goro em janeiro de 1967 e Keisuke em abril de 1969. Sua dedicação ao trabalho prejudicou sua relação com os filhos, ficando ausente por longos períodos.

Miyazaki depois trabalhou como animador chefe, artista conceitual e projetista de cena em Horus: O Príncipe do Sol (Taiyo no Oji Horusu no Daiboken) de 1968. Ele trabalhou durante toda a produção bem próximo de Yasuo Otsuka, seu mentor, cuja abordagem para animação muito influenciou o trabalho de Miyazaki. O longa foi dirigido por Isao Takahata, com quem Miyazaki continuaria a colaborar pelo restante de sua carreira. O filme foi muito elogiado e foi considerado um marco na evolução da animação.

Ele escreveu e ilustrou o mangá People of the Desert (Sabaku no Tami) sob o pseudônimo Saburo Akitsu, tendo sido publicado em 26 capítulos entre setembro de 1969 e março de 1970 na revista Shonen Shojo Shinbun. Ele se influenciou por várias histórias, como The Devil of the Deser (Sabaku no Mao) de Tetsuji Fukushima. Miyazaki também realizou animações principais em Puss in Boots (Nagagutsu o Haita Neko) de 1969, dirigido por Kimio Yabuki. Também criou uma série de mangá de doze capítulos como item promocional para este filme; ela foi publicada aos sábados no jornal Tokyo Shimbun de janeiro a março de 1969. Ele depois propôs cenas para o roteiro de Flying Phantom Ship  (Soratobu Yureisen), também de 1969, em que tanques causam histeria em massa no centro de Tóquio, sendo recrutado para animar e fazer os storyboards do projeto. Em 1971, desenvolveu a estrutura, personagens e desenhos da adaptação da animação Animal Tresure Island (Dobutsu Takarajima), criando um mangá de treze partes publicado no Tokyo Shimbun de janeiro a março de 1971. No mesmo ano, Miyazaki também fez animações principais em Ari Baba to Yonjuppiki no Tozoku.

Miyazaki deixou a Toei em agosto de 1971 e foi contratado pela A Production, onde dirigiu, ou codirigiu junto com Takahata, 23 episódios da série de animação Lupin III. Os dois também começaram a pré-produção em uma série baseada nos livros da personagem Píppi Meialonga, de Astrid Lindgren, desenhando vários storyboards; o projeto foi cancelado depois de Miyazaki e Takahata terem se encontrado com Lindgren, que se recusou a permitiu que a ideia seguisse adiante. Miyazaki escreveu, projetou a animou dois curtas-metragens de Panda Kopanda em 1972 e 1973, ambos dirigidos por Takahata. Os dois foram para a Zuiyo Eizo em junho de 1973, trabalhando em World Masterpiece Theater (Sekai Meisaku Gekijo), que incluiu sua série animada Heidi, A Menina dos Alpes (Arupusu no Shojo Haiji) uma adaptação do romance Heidi, de Johanna Spyri. A Zuiyo Eizo se transformou na Nippon Animation em julho de 1975. Miyazaki também dirigiu a série Conan: O Rapaz do Futuro (Mirai Shonen Conan) em 1978, uma adaptação do romance The Incredible Tide, de Alexander Key.

Filmes inovadores

Miyazaki saiu da Nippon Animation em 1979, durante a produção de Anne of Green Gables (Akage no Na), em que havia contribuído com o projeto de cenas e organização dos primeiros quinze episódios. Foi trabalhar na Telecom Animation Film, subsidiária da Tokyo Movie Shinsha, para dirigir seu primeiro longa-metragem, O Castelo de Cagliostro. Ele ajudou a treinar a segunda leve de funcionários na Telecom. Miyazaki dirigiu em 1981 seis episódios de Sherlock Hound (Meitantei Homuzu), até disputas com o espólio de sir Arthur Conan Doyle levarem a suspensão da produção; Miyazaki estava ocupado com outros projetos na época que as questões foram resolvidas, com o restante dos episódios tendo sido dirigidos por Koysuke Mikuriya. Foram transmitidos entre novembro de 1984 e maio de 1985. Ele também escreveu o romance gráfico Shuna’s Journey (Shuna no Tabi), inspirado pelo conto folclórico tibetano “O príncipe que se tornou um cachorro”. Este foi publicado pela Tokuma Shoten em junho de 1983, sendo dramatizado no rádio em 1987. Hayao Miyazaki’s Daydream Notes (Miyazaki Hayao no Zasso noto) também foi publicado irregularmente na Model Graphix entre novembro de 1984 e outubro de 1994; partes foram transmitidas no rádio em 1995.

Miyazaki começou a trabalhar em ideias para uma adaptação do quadrinho Rowlf, de Richard Corben, após a estreia de O Castelo de Cagliostro, apresentando a ideia para Yutaka Fujioka da Tokyo Movie Shinsha. Uma proposta para a aquisição dos direitos foi elaborada em novembro de 1980. Na mesma época, Miyazaki foi abordado pela revista Animage sobre uma possível série. Ele mostrou seus esboços aos editores Toshio Suzuki e Osamu Kameyama, discutindo os pontos básicos dos enredos de possíveis projetos de animação; Suzuki e Kameyama perceberam potencial para uma colaboração em sua progressão para a animação. Dois projetos foram propostos: Sengoku ma-jo, que se passava no período Sengoku; e uma adaptação de Rowlf. Ambos foram rejeitados, pois a companhia não estava disposta a financiar animes que não fossem baseados em mangás pré-existentes e pelo fato dos direitos de Rowlf não terem sido adquiridos. Um acordo foi alcançado, que estipulava que Miyazaki poderia começar a desenvolver seus esboços e ideias em um mangá para a revista com a provisão de que ele nunca seria transformado em um filme. A obra foi intitulada Nausicaä do Vale do Vento e foi publicada de fevereiro de 1982 até março de 1994. A história, conforme republicações em volumes tankobon, possui sete volumes que acumulam 1060 páginas. Miyazaki desenhou o mangá principalmente a lápis, tendo sido publicado em uma tinta sépia monocromática. Ele se demitiu da Telecom em novembro de 1982.

Yasuyoshi Tokuma, fundador da Tokuma Shoten, encorajou Miyazaki a realizar uma adaptação em anime de Nausicaä do Vale do Vento. Ele inicialmente se recusou, porém concordou com a condição de que fosse o diretor. A imaginação de Miyazaki foi despertada pelo envenenamento de mercúrio de Minamata e como a natureza respondeu e floresceu em um ambiente tóxico, usando-o na criação do mundo poluído do filme. Miyazaki e Takahata escolheram o pequeno estúdio Topcraft para a produção do longa, pois acreditavam que seu talento poderia transpor a sofisticada atmosfera do mangá para um filme. A pré-produção começou em 31 de março de 1983; Miyazaki teve dificuldades ao desenvolver o roteiro, pois apenas dezesseis capítulos do mangá estavam prontos. Takahata recrutou o compositor minimalista e experimental Joe Hisaishi para a criação da trilha sonora. Nausicaä do Vale do Vento foi lançado em 11 de março de 1984 e arrecadou 1,48 bilhões de ienes na bilheteria japonesa, conseguindo mais 742 milhões de outras partes do mundo. O longa é considerado como um dos principais trabalhos de Miyazaki, tendo consolidado sua reputação como animador. Foi elogiado pela representação positiva das mulheres, particularmente para a protagonista Nausicaä. Vários críticos consideraram que Nausicaä do Vale do Vento continha temas antiguerra e feministas; Miyazaki discorda, dizendo que seu único objetivo é entreter. A cooperação bem sucedida entre a criação do mangá e anime criou as fundações para colaborações futuras. Miyazaki abriu seu próprio escritório em abril de 1984 em Suginami, nomeando-o de Nibaraki.

Studio Ghibli — Primeiros filmes (1985-1996)

Miyazaki, Takahata, Tokuma e Suzuki fundaram a companhia de animação Studio Ghibli em junho de 1985, com o financiamento vindo da Tokuma Shoten. O primeiro longa do estúdio foi O Castelo no Céu em 1986, produzido pela mesma equipe que havia feito Nausicaä do Vale do Vento.

Os desenhos de Miyazaki para o longa foram inspirados pela arquitetura da Grécia Antiga e “padrões urbanistas europeus”. Algumas das arquiteturas também foram inspiradas por uma cidade mineradora galesa; ele tinha testemunhado uma greve de mineiros ao visitar o País de Gales em 1984 e ficou admirado pela dedicação dos grevistas ao seu trabalho e comunidade.

O Castelo no Céu estreou em 2 de agosto de 1986 e foi o filme animado de maior arrecadação do ano no Japão.

O filme seguinte de Miyazaki foi Meu Amigo Totoro, lançado em abril de 1988 junto com Túmulo dos Vagalumes de Takahata a fim de garantir a situação financeira do Studio Ghibli. A produção simultânea foi caótica, pois os artistas necessitavam ficar trocando entre projetos. Meu Amigo Totoro possui o tema da relação entre ambiente e humanidade, diferente de Nausicaä do Vale do Vento que enfatizava o efeito negativo da tecnologia no ambiente. O longa foi elogiado, porém não teve tanto sucesso na bilheteria. Mesmo assim, seus produtos associados venderam bem e o filme foi considerado um clássico.

O Studio Ghibli tinha adquirido em 1987 os diretos para uma adaptação cinematográfica do romance de fantasia infantil Majo no Takkyubin, de Eiko Kadono. O trabalho de Miyazaki em Meu Amigo Totoro inicialmente o impediu de dirigir, assim Sunao Katabuchi foi escolhido como diretor e Nobuyuki Isshiki foi contratado para escrever o roteiro. Miyazaki ficou insatisfeito com o primeiro rascunho de Isshiki e começou a alterar o projeto, acabando por no final tomar o lugar de diretor. Kadono não ficou feliz com as diferenças entre seu livro e o roteiro. Miyazaki e Suzuki visitaram a autora e a convidaram a conhecer o Studio Ghibli; depois disso ela permitiu que o projeto seguisse adiante.

O filme originalmente seria um especial de uma hora, porém foi expandido para um longa-metragem depois de Miyazaki finalizar os storyboards e roteiro. O Serviço de Entregas da Kiki estreou em 29 de julho de 1989 e arrecadou 2,15 trilhões de ienes na bilheteria, sendo o filme de maior arrecadação no Japão em 1989.

The Age of the Flying Boat (Hikotei Jidai), mangá de Miyazaki, foi publicado na revista Model Graphix entre março e maio de 1989. Ele então começou a produção de um filme de bordo de 45 minutos para a Japan Airlines, baseado no mangá; as expectativas foram crescendo e Suzuki acabou aumentando o projeto até um longa-metragem, intitulado Porco Rosso. Miyazaki inicialmente cuidou independentemente da produção desse filme, pois Memórias de Ontem de Takahata estava em sua fase de finalização.

O início da Guerra Civil Iugoslava em 1991 afetou Miyazaki, fazendo com que seu longa tivesse um tom mais sóbrio; ele posteriormente chamaria o longa de “tolo”, pois seus temas maduros não eram apropriados para crianças. Porco Rosso contém temas antiguerra, algo que Miyazaki retornaria posteriormente. A Japan Airlines permaneceu como uma grande investidora no longa, fazendo com que sua estreia ocorresse como filme de bordo, antes de seu lançamento nos cinemas em 18 de julho de 1992. Porco Rosso foi um sucesso comercial e de crítica, permanecendo como o filme de animação de maior bilheteria no Japão por alguns anos.

O Studio Ghibli estabeleceu em agosto de 1992 uma nova sede em Koganei, Tóquio. Em novembro de 1992, a Nippon TV transmitiu dois espaços televisivos dirigidos por Miyazaki. O primeiro foi The Sky Colored Seed (Sora Iro no Tane), uma animação de noventa segundos de duração baseada levemente na história ilustrada Sora Iro no Tane, escrita por Rieko Nakagawa e ilustrada por Yuriko Omura, encomendada para celebrar o quadragésimo aniversário da emissora. A segunda foi Nandaro, transmitida como uma única peça de quinze segundos e quatro de cinco segundos cada, centrada em uma criatura não identificada que acabou se tornando depois a mascote oficial da Nippon TV. Miyazaki também desenhou os storyboards e escreveu o roteiro de Sussurros do Coração, dirigido por Yoshifumi Kondo e lançado em 1995.

Sucesso mundial (1997–2008)

Miyazaki começou os primeiros storyboards do que viria a ser Princesa Mononoke em agosto de 1994, baseado em pensamentos e esboços preliminares que tinha originalmente concebido durante a década de 1970. Ele teve um bloqueio artístico durante a pré-produção e acabou aceitando o pedido de trabalhar em On Your Mark, um videoclipe para a canção homônima da dupla japonesa Chage & Aska. Foi durante esta produção que Miyazaki experimentou pela primeira vez animações computadorizadas a fim de suplementar a animação tradicional, uma técnica que revisitaria em Princesa Mononoke. On Your Mark estreou como um curta-metragem antes das sessões de Sussurros do Coração. O videoclipe foi muito popular, porém Suzuki afirmou que ele não recebeu “100% do foco do estúdio.

Miyazaki, em maio de 1995, levou um grupo de artistas e animadores para as antigas florestas da ilha de Yakushima e às montanhas de Shirakami-Sanchi, com eles tirando várias fotografias e fazendo inúmeros desenhos. As paisagens de Princesa Mononoke acabaram sendo inspiradas por Yakushima. Ele revisitou no filme os temas ambientais e políticos de Nausicaä do Vale do Vento. Miyazaki supervisionou a criação de 144 mil folhas de celuloide para o longa, das quais aproximadamente oitenta mil eram de animações principais. Princesa Mononoke foi produzido com um orçamento estimado de 2,35 bilhões de ienes, sendo o filme mais caro da história do Studio Ghibli até então. Por volta de quinze minutos usam de animações computadorizadas: cinco desses minutos utilizam técnicas como renderização tridimensional, composição digital e mapeamento de textura, enquanto os dez restantes foram para pintar quadros. A intenção original era de que cinco mil quadros do filme fossem pintados digitalmente, porém restrições de tempo fizeram esse número dobrar.

Princesa Mononoke estreou em 12 de julho de 1997 e foi aclamado pela crítica especializada, tornando-se o primeiro filme de animação a vencer o prestigioso Prêmio da Academia Japonesa de Filme do Ano. Também foi um sucesso comercial, com uma arrecadação doméstica de catorze bilhões de ienes, mantendo por alguns meses o título de longa de maior bilheteria no Japão. A Miramax comprou os direitos de distribuição do filme para a América do Norte; foi a primeira produção do Studio Ghibli a receber uma grande distribuição em cinemas dos Estados Unidos. Apesar de não ter sido um sucesso, arrecadou apenas três milhões de dólares, foi considerado a introdução do Studio Ghibli para mercados globais. Miyazaki na época afirmou que Princesa Mononoke seria seu último filme.

O filme seguinte de Miyazaki foi concebido enquanto estava de férias em um chalé nas montanhas com sua família e cinco meninas que eram amigas da família. Ele percebeu que até então não tinha criado um longa para meninas de dez anos. Miyazaki leu revistas shojo como Nakayoshi e Ribon como inspiração, porém achou que os assuntos que elas ofereciam eram apenas “paixões e romance”, o que não era o que meninas “guardavam em seus corações”. Ele decidiu produzir um filme sobre uma heroína feminina quem elas poderiam se inspirar.

A produção de A Viagem de Chihiro começou em 2000 com um orçamento de 1,9 bilhões de ienes. A equipe, assim como em Princesa Mononoke, experimentou com animações computadorizadas, porém mantiveram a tecnologia a um nível a fim de aprimorar a narrativa, não “roubar a cena”. O longa lida com temas da ganância humana e uma jornada liminar pelo reino dos espíritos. Ele foi lançado em 20 de julho de 2001 e foi aclamado pela crítica, sendo considerado um dos melhores filmes da década de 2000. Ele venceu o Prêmio da Academia Japonesa de Filme do Ano e rendeu a Miyazaki o Oscar de Melhor Filme de Animação. Também foi um enorme sucesso comercial, arrecadando 30,4 bilhões de ienes, sendo até hoje o filme de maior bilheteria de todos os tempos no Japão.

O Studio Ghibli anunciou em setembro de 2001 a produção de O Castelo Animado, uma adaptação do romance de mesmo nome de Diana Wynne Jones. Mamoru Hosoda da Toei Animation tinha sido originalmente selecionado para a direção, porém discordâncias entre Hosoda e executivos do Studio Ghibli fez com que o projeto fosse abandonado. O longa foi ressuscitado seis meses depois.

Miyazaki ficou inspirado para dirigi-lo depois de ler o livro de Jones, ficando marcado pela imagem de um castelo movendo-se pelo campo; o romance não explica como o castelo se move, fazendo Miyazaki criar desenhos a partir de sua imaginação. Ele viajou para as cidades de Colmar e Riquewihr na Alsácia, França, com o objetivo de estudar a arquitetura e arredores para a ambientação. Outras inspirações vieram dos conceitos de tecnologia futurista das obras de Albert Robida, além de “arte ilusão” do século XIX.

O Castelo Animado foi produzido digitalmente, porém os personagens e os fundos foram desenhados a mão antes de serem digitalizados. O longa foi lançado em 20 de novembro de 2004 e foi muito elogiado. Ele venceu o Prêmio Osela de Excelência Técnica no Festival Internacional de Cinema de Veneza e foi indicado ao Oscar de Melhor Filme de Animação. Ele arrecadou 14,5 milhões de ienes apenas em sua primeira semana no Japão, alcançando no mundo inteiro uma bilheteria de 19,3 bilhões de ienes. No ano seguinte, Miyazaki recebeu um honorário Leão de Ouro no Festival de Veneza.

Miyazaki tinha entrado em contato com a autora Ursula K. Le Guin na década de 1980, expressando seu interesse em produzir uma adaptação de seus romances Earthsea; Le Guin não conhecia o trabalho de Miyazaki e assim recusou. Ela assistiu Meu Amigo Totoro anos depois e aprovou o conceito de uma adaptação. Le Guin se encontrou com Suzuki em agostou de 2005, que queria que Goro, filho de Miyazaki, fosse o diretor, já que Miyazaki estava querendo se aposentar. A autora, decepcionada que Miyazaki não seria o diretor, mas com a impressão de que ele iria supervisionar o trabalho do filho, aprovou a produção. Miyazaki depois publicamente se opôs e criticou a escolha de Goro como diretor. Miyazaki, depois de assistir ao filme, Gedo Senki de 2006, escreveu uma mensagem ao filho: “Foi feito honestamente, então foi bom”.

Ele desenhou, em 2006, várias capas para romances de mangá, incluindo uma adaptação de A Trip to Tynemouth, de Robert Westall; também trabalhou como editor para este trabalho, tendo criado um curto mangá para o livro. A produção do longa seguinte de Miyazaki, Ponyo: Uma Amizade Que Veio do Mar, começou em maio de 2006. O conto “A Pequena Sereia”, de Hans Christian Andersen, inicialmente foi uma inspiração, porém a história foi assumindo forma própria no decorrer da produção. Miyazaki queria que o filme celebrasse a inocência e positividade do universo de uma criança. Ele queria usar apenas animação tradicional e muito se envolveu com a arte. Miyazaki preferia desenhar ele próprio o mar e as ondas, pois gostava de experimentar.

Ponyo possui 170 mil quadros, um recorde para Miyazaki. O vilarejo costeiro do longa foi inspirado em Tomonoura, localizado no Parque Nacional Setonaikai, que Miyazaki conheceu em 2005. Sosuke, o protagonista, é baseado em Goro Miyazaki. Ponyo estreou em 19 de julho de 2008 e foi aclamado pela crítica, vencendo o prêmio de Animação do Ano nos Prêmios da Academia do Japão. Também foi um sucesso comercial, tendo arrecadado dez bilhões de ienes em seu primeiro mês e 15,5 bilhões até o final do ano, ficando entre os filmes de maior arrecadação do Japão.

Studio Ghibli — Filmes finais (2009-2013)

Miyazaki, no início de 2009, começou a escrever um mangá chamado Kaze Tachinu, que contava a história do engenheiro japonês Jiro Horikoshi, o projetista do caça Mitsubishi A6M Zero. O mangá foi inicialmente publicado em duas edições na revista Model Graphix, em 25 de fevereiro e 25 de março de 2009. Em seguida ele Coescreveu os roteiros de O Mundo dos Pequeninos, de 2010 e Da Colina Kokuriko, de 2011, dirigidos por Hiromasa Yonebayashi e Goro Miyazaki, respectivamente. Miyazaki queria que seu filme seguinte fosse uma sequência de Ponyo, porém Suzuki o convenceu a adaptar Kaze Tachinu. A produção de Vidas ao Vento foi anunciada pelo Studio Ghibli em novembro de 2012, para ser lançado junto com O Conto da Princesa Kaguya, de Takahata.

Ele ficou inspirado depois de ler uma citação de Jiro Horikoshi: “Tudo que eu queria fazer era criar algo bonito”. Várias cenas de Vidas ao Vento foram inspiradas no romance homônimo escrito por Tatsuo Hori, em que o autor escreveu sobre suas experiências com sua noiva antes dela morrer de tuberculose. Naoko Satomi, a protagonista feminina, teve seu nome tirado de uma personagem da história de Hori. Vidas ao Vento continua a refletir o pacifismo de Miyazaki, sendo uma continuação de suas obras anteriores, mesmo ele tendo afirmado que condenar a guerra não era sua intenção. O filme estreou em 20 de julho de 2013 e foi aclamado pela crítica; ele venceu como Animação do Ano nos Prêmios da Academia do Japão e recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Filme de Animação. Também foi um sucesso comercial com 11,6 bilhões de ienes na bilheteria japonesa, sendo o filme de maior arrecadação no Japão em 2013.

Foco em curtas-metragens e mangás (2013 – presente)

Em setembro de 2013, Miyazaki anunciou que estava se aposentando da produção de longas-metragens devido à sua idade, mas desejava continuar trabalhando nas exibições no Museu Studio Ghibli . Miyazaki recebeu o Oscar de Honra da Academia no Governors Awards em novembro de 2014. Ele desenvolveu Boro a Lagarta (Kemushi no Boro), um curta-metragem em computação gráfica que foi discutido pela primeira vez durante a pré-produção de Princesa Mononoke. Foi exibido exclusivamente no Museu Studio Ghibli em julho de 2018. Ele também trabalhou em um mangá samurai sem título. Em agosto de 2016, Miyazaki propôs um novo longa-metragem, Como Vocês Vivem? (Kimi-tachi wa Do Ikiru ka), no qual ele começou o trabalho de animação sem receber a aprovação oficial. Ele esperava concluir o filme em 2019; contudo o filme sofreu atrasos e não tem previsão de estreia até o momento.

Opiniões

Miyazaki já criticou o estado atual da indústria japonesa de animação, afirmando que animadores não são realistas ao criarem pessoas. Ele já chegou a afirmar que animações são “produzida[s] por humanos que não aguentam olhar para outros humanos. E é por isso que a indústria está cheia de otakus!”. Miyazaki já criticou otakus em outras ocasiões, incluindo “otakus de armas” e “fanáticos pelo Zero”, declarando que era um fetiche e recusando-se a se identificar como tal.

Vários funcionários do Studio Ghibli, incluindo Miyazaki, criticaram as políticas do primeiro-ministro japonês Shinzo Abe em 2013, além da proposta de emenda constitucional que permitiria que Abe revisasse a cláusulas da Constituição do Japão. Miyazaki achou que Abe queria “deixar seu nome na história como um grande homem que revisou a constituição e sua interpretação”, descrevendo isto como “desprezível”. Também expressou desaprovação da negação do primeiro-ministro sobre a agressão do Japão, afirmando que o país “deveria claramente dizer que infligiu danos enormes na China e expressar grande remorso a respeito”. Miyazaki disse que o governo deveria dar as “desculpas apropriadas” para mulheres de conforto coreanas que serviram no exército japonês durante a Segunda Guerra Mundial, sugerindo que as Ilhas Senkaku deveriam ser “divididas ao meio” ou controladas por Japão e China. Alguns críticos, depois do lançamento de Vidas ao Vento em 2013, acusaram Miyazaki de ser um “traidor” e “anti-japonês”, descrevendo o longa como muito “de esquerda”.

Miyazaki recusou-se a comparecer à cerimônia do Oscar 2003 em Los Angeles, quando foi indicado por A Viagem de Chihiro, em protesto contra o envolvimento dos Estados Unidos na Guerra do Iraque, posteriormente afirmando que “não queria visitar um país que estava bombardeando o Iraque”. Entretanto, ele não expressou sua opinião até 2009, a pedido de seu produtor, quando encerrou seu boicote para comparecer a San Diego Comic-Con como um favor a seu amigo John Lasseter. Miyazaki também expressou sua opinião sobre o ataque terrorista contra os escritórios da revista satírica francesa Charlie Hebdo, criticando a decisão da revista de publicar o conteúdo citado como o catalizador do ataque. Ele falou em novembro de 2016 que acreditava que “muitas das pessoas que votaram pelo Brexit e Trump” estavam afetadas pelo desemprego cada vez maior causado por empresas “construírem carros no México por causa dos baixos salários e [vendê-los] nos Estados Unidos”. Ele não achava que Donald Trump seria eleito presidente, descrevendo como “uma coisa terrível”, porém também disse que Hillary Clinton, oponente de Trump, era “igualmente terrível”.

Filmografia

Curtas Metragens

On Your Mark
(1995)

A Aranha Aquática Monmon (2006)

A Caça da Baleia
(2001)

Procurando um Lar
(2006)

Mei e o Ônibus Gato
(2002)

Sr. Massa e a Princesa Ovo
(2010)

O Grande Passeio de Koro
(2002)

Boro, A Lagarta
(2018)

Máquinas Voadoras Imaginárias (2002)

O Dia que Colhi uma Estrela (2006)

Séries

Lupin III: Parte 1
(1971)

Yuki no Taiyo
(1972)

Lupin III: Parte 2
(1977)

Conan: O Rapaz do Futuro (1978)

Sherlock Hound
(1984)

Aparece em:

O Reino dos Sonhos e da Loucura (2013)

Never-Ending Man: Hayao Miyazaki (2016)

10 Years With Hayao Miyazaki (2019)

Mangás

  • Puss in Boots (1969)
  • People of the Desert (1969 – 1970)
  • Animal Treasure Island (1973)
  • Tree (1989)
  • Nausicaä do Vale do Vento (1982 – 1994)
  • Imouto he (To my sister) (1982)
  • Shuna’s Journey (1983)
  • The Age of the flying boat (1990)
  • Hayao Miyazaki’s Daydream Notes (1992)
  • A Middle Aged Man Runs Toward the Wasteland (1993)
  • The Return of Hans (1994)
  • Dining in the Air (1994)
  • Tigers Covered With Mud (1998 – 1999)
  • A Trip to Tynemouth (2006)
  • Kaze Tachinu (The Wind Rises) (2009)
  • Teppou Samurai (Gun Samurai) (2015)

Livros

  • Hayao Miyazaki Image Board
  • Starting Point: 1979-1996
  • Turning Point: 1997-2008
  • Princess Mononoke: The First Story
  • House Enlarged and Revised Edition Live in Totoro
  • Nausicaä of the Valley of the Wind Watercolor Impressions
  • The Art of Spirited Away
  • The Art of My Neighbor Totoro
  • The Art of Princess Mononoke
  • The Art of Nausicaä of the Valley of the Wind
  • The Art of Kiki’s Delivery Service
  • The Art of Porco Rosso
  • The Art of Castle in the Sky
  • The Art of Ponyo
  • The Art of Howl’s Moving Castle
  • The Art of The Wind Rises
  • Pippi Longstockings: That Never Saw the Light of Day
  • My Neighbor Totoro Storyboards
  • Kiki’s Delivery Service Storyboards
  • Ponyo Storyboards
  • Whisper of the Heart Storyboards
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Hayao Miyazaki